sábado, dezembro 14, 2024
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Polícia identifica mais 37 alunos vítimas de torturas em escolinha desde 2009

O segundo inquérito aberto pela Polícia Civil de São Paulo para investigar novas denúncias de torturas e maus-tratos na Colmeia Mágica identificou mais 37 alunos (23 meninos, um adolescente e 13 meninas) que teriam sofrido castigos desde 2009 na escola particular da Zona Leste.

Apesar disso, a Central Especializada de Repressão a Crimes e Ocorrências Diversas (Cerco) da 8ª Delegacia Seccional, que investiga o caso, relatou o inquérito à Justiça sem indiciar as responsáveis pela escolinha e suas funcionárias pelos crimes.

Segundo o g1 apurou, a polícia deixou de apontar culpados por não conseguir provar que as crianças foram, de fato, torturadas, maltratadas e castigadas, como as testemunhas disseram.

Foram ouvidos pais de alunos e funcionários que haviam trabalhado na Colmeia Mágica. Apesar de relatarem ter visto casos de tortura, maus-tratos e castigos contra os alunos, cometidos e ordenados pela direção da escola, eles não têm fotos, vídeos ou laudos que confirmem que essas agressões ocorreram. As supostas vítimas tiveram os nomes mencionados na investigação.

A Colmeia Mágica foi fundada em 2002 e atendia crianças de 1 a 5 anos, do berçário ao ensino infantil. Atualmente está fechada. As vítimas, em sua maioria, tinham idades entre 6 meses e 6 anos e teriam sofrido algum tipo de violência entre 2009 e 2022.

Num caso específico, um adolescente de 16 anos com síndrome de Down foi mencionado pelas testemunhas como alguém que ficava na escolinha e sofria maus-tratos.

O primeiro inquérito contra a escolinha da Zona Leste foi encerrado há quase dois anos. À época, a polícia indiciou as irmãs Roberta Serme e Fernanda Serme, respectivamente diretora e coordenadora da Colmeia Mágica, e Solange Hernandez, uma funcionária, por torturar e maltratar outros nove alunos (sete meninos e duas meninas identificados) entre 2021 e 2022.

O caso foi revelado em 2022 pelo g1, depois que vídeos e fotos mostravam essas nove crianças amarradas e chorando no banheiro da escola. Em 2023, as três mulheres investigadas foram condenadas à prisão pela Justiça pelos crimes. As donas estão presas, e a empregada está em liberdade (saiba mais abaixo).

O segundo inquérito foi aberto ainda em 2022 a pedido do Ministério Público (MP). Após a repercussão do caso nas redes sociais e na imprensa, outros pais de alunos procuraram a polícia para relatar que notaram lesões no corpo e mudanças de comportamento nos filhos no período em que estudaram na Colmeia Mágica. Essas crianças teriam sido torturadas e maltratadas, mas não há imagens dessas lesões.

A Promotoria queria saber, entre outras coisas, se a polícia também conseguiria esclarecer nesta nova investigação se as duas donas e a funcionária da Colmeia Mágica tiveram a ajuda de professoras e outras funcionárias nessas supostas torturas e maus-tratos contra esse outro grupo de crianças.

Mas, segundo o MP, a Polícia Civil não conseguiu informar neste segundo inquérito se educadoras e empregadas da escolinha também participaram dos crimes contra os alunos.

Diante disso, a promotora Nilza Pinheiro Chain pediu que a Cerco da 8ª Delegacia Seccional, que investiga o caso, “complemente seu relatório dizendo expressamente se apurou a mencionada participação ou omissão, ou mesmo outros delitos”.

A Justiça determinou então que a Polícia Civil cumpra os pedidos feitos pelo MP num prazo de 60 dias, até junho.

Ex-funcionárias relatam castigos – Neste segundo inquérito, a polícia ouviu mais de dez ex-funcionárias da escolinha que contaram que os castigos começaram há mais de 15 anos. Elas disseram que a direção da Colmeia Mágica obrigava alunos a castigos físicos quando choravam ou por não comerem as refeições.

Relataram também que meninos e meninas de até 5 anos eram amarrados em lençóis presos a cadeiras de bebês, não podendo mexer os braços, enquanto ficavam em banheiros escuros. Disseram ter ouvido das responsáveis pela escolinha que isso acalmava as crianças.

Outras punições aplicadas previam colocar crianças em pé por horas. Num dos relatos, uma mulher que trabalhou na Colmeia Mágica em 2016 contou que viu a diretora Roberta exigir que um aluno comesse o próprio vômito. Segundo ela, a criança não estava querendo se alimentar, passou mal e vomitou o que comeu no prato.

“Vomitou porque não queria comer, e Roberta disse a outra funcionária: ‘Recolhe tudo e põe no prato e obriga ele a comer'”, relatou a ex-auxiliar. A testemunha não sabe, porém, se o menino obedeceu a ordem.
Outras testemunhas lembraram que os alunos comiam quase sempre o mesmo tipo de comida num único prato sujo, compartilhado com outras crianças.

Polícia – Segundo a polícia, os nomes de Roberta, Fernanda e Solange foram citados no segundo inquérito como sendo as responsáveis por eventuais torturas, maus-tratos e castigos contra os alunos. Nos relatos não há, no entanto, informações sobre envolvimentos das educadoras e outras funcionárias.

A investigação também ouviu outras nove pessoas que disseram desconhecer quaisquer irregularidades cometidas pelas donas e pela funcionária da escolinha. Roberta, Fernanda e Solange também foram ouvidas e negaram as novas acusações.

A delegacia chegou a apurar ainda se Roberta e Fernanda cometeram crime de falsidade ideológica pelo uso de documentos irregulares encontrados pela investigação. Eles teriam sido encaminhados à prefeitura para tentar burlar exigências da Secretaria Municipal da Educação.

A Justiça poderá arquivar o segundo inquérito, determinar que mais provas sejam produzidas pela polícia e até, eventualmente, responsabilizar as três investigadas por algum crime.

Condenações

(Crédito: Reprodução)

O primeiro inquérito contra a Colmeia Mágica foi aberto após filmagens e fotografias viralizarem nas redes sociais e mostrarem seus alunos chorando, amarrados em lençóis. As imagens tinham sido feitas por ex-funcionárias da escola. A prática, conhecida na escolinha como “charutinho”, funcionava como castigo para conter crianças desobedientes e foi considerada criminosa pela investigação.

Após serem indiciadas por tortura e maus-tratos, Roberta, Fernanda e Solange foram condenadas pelos crimes na Justiça. O julgamento delas ocorreu em 2023.

Roberta recebeu pena de 49 anos, 9 meses e 10 dias de prisão em regime inicial fechado, e 1 ano e 4 meses de detenção no semiaberto. Fernanda foi punida com 13 anos e 4 meses de detenção no semiaberto.

As irmãs Serme estão presas atualmente.

Solange foi condenada a 31 anos, 1 mês e 10 dias de reclusão, em regime inicial fechado, e 8 meses de detenção em regime semiaberto. Ela, no entanto, continua em liberdade.

O g1 não conseguiu localizar as defesas das investigadas para comentarem o assunto até a última atualização desta reportagem.

Fonte: TNH1

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