- Author, Georgina Rannard
- Role, Da BBC News
O destino da nave é Europa — uma lua misteriosa que orbita o planeta Júpiter.
Cientistas acreditam que pode haver um vasto oceano com o dobro da água da Terra abaixo da superfície gelada do satélite.
A nave Europa Clipper vai seguir o caminho de outra missão lançada no ano passado, mas deverá ultrapassá-la e chegar primeiro ao satélite.
Isso só acontecerá em 2030. As descobertas da nave poderão mudar o que sabemos sobre a vida no nosso sistema solar.
Uma lua cinco vezes mais brilhante que a nossa
Após anos de planejamento, o lançamento da Europa Clipper foi adiado na última hora por causa do furacão Milton, que atingiu a Flórida na semana passada.
A nave foi levada às pressas para um ambiente interno. Após verificarem possíveis danos à plataforma de lançamento, os engenheiros deram sinal verde para a nave, que decolou por volta das 13h, no horário de Brasília, nesta segunda-feira (14/10).
“Se descobrirmos vida tão longe do Sol, isso implicaria que houve uma origem diferente da vida do que na Terra”, afirma Mark Fox-Powell, microbiologista planetário da Open University.
“Isso é altamente significativo, porque se pode acontecer duas vezes no sistema solar, pode significar que vida é algo muito comum.”
Localizada a 628 quilômetros da Terra, Europa é um pouco maior que a nossa Lua. Mas essa é praticamente a única semelhança.
Se estivesse no nosso céu, ela brilharia cinco vezes mais, porque sua camada de água congelada refletiria muito mais luz do Sol.
Sua camada de gelo de profundidade de 25 quilômetros. Abaixo disso, pode haver um oceano de água salgada. Também pode haver químicos que são ingredientes para formas de vida simples.
A primeira vez que cientistas perceberam que Europa poderia abrigar vida foi nos anos 1970, quando observaram água congelada através de um telescópio no Arizona.
As naves Voyager 1 e 2 capturaram as primeiras imagens em close, e em 1995 a nave Galileo, da Nasa, passou perto de Europa, tendo feito fotos extremamente intrigantes.
As imagens mostram uma superfície repleta de rachaduras escuras de tom vermelho e marrom. Essas rachaduras podem conter compostos de sais e enxofre que seriam sinais de haver possibilidade de vida.
Desde então, o telescópio James Webb tirou fotos do que seriam colunas de água ejetadas a alturas de 160 quilômetros acima da superfície da lua.
Mas nenhuma das missões chegou perto o suficiente de Europa por tempo suficiente para compreender o que está acontecendo.
Colunas de água
Os cientistas esperam que os instrumentos da nave Clipper possam mapear quase toda a lua, além de coletar partículas de poeira e de voar através das colunas de água.
Britney Schmidt, professora de ciências atmosféricas e terrestres da universidade de Cornell, ajudou a criar o laser que será usado para “enxergar” através do gelo.
“Eu estou mais animada sobre entender como funciona o ‘encanamento’ de Europa. Onde está a água? Europa tem a versão de gelo das zonas de subducção da Terra, câmaras de magma e tectônica. Vamos tentar enxergar essas regiões e mapeá-las.”
O instrumento, que é chamado de Reason, foi testado na Antártida.
Mas, ao contrário da operação na Terra, todos os instrumentos da Clipper estarão expostos a quantidades enormes de radiação, o que, segundo Schmidt, é uma “grande preocupação”.
A espaçonave deve voar por Europa cerca de 50 vezes, e em cada uma delas receberá radiação equivalente a um milhão de raios-X.
“A maior parte da eletrônica está em um compartimento que é muito protegido contra radiação”, explica Schmidt.
A nave é a maior já construída para visitar outro satélite. Ela tem uma viagem longa pela frente.
Viajando 2,8 bilhões de quilômetros, ela vai orbitar a Terra e Marte para ganhar propulsão e se lançar em direção a Júpiter — o chamado efeito estilingue.
A nave não consegue carregar combustível suficiente para toda a jornada, por isso ela vai usar o momento da força gravitacional da Terra e de Marte.
Ela vai ultrapassar a JUICE, que é a nave da Agência Espacial Europeia, que também vai passar por Europa, a caminho de outra lua de Júpiter, a Ganimedes.
Depois que se aproximar de Europa, em 2030, a Clipper vai ligar seus motores novamente para cuidadosamente manobrar em direção à rota correta.
Cientistas espaciais são muito cautelosos quando falam em chances de se descobrir vida — não há expectativa de se encontrar criaturas semelhantes a humanos ou animais.
“Nós estamos pesquisando o potencial de haver um habitat, e para isso é preciso haver quatro coisas: água líquida, fonte de calor e material orgânico. E é preciso que esses quatro ingredientes fiquem estáveis por um período longo o suficiente para que algo possa acontecer”, explica Michelle Dougherty, professora de física espacial do Imperial College de Londres.
Eles esperam que se conseguirem compreender melhor a superfície do gelo, poderão saber onde melhor aterrissar uma missão no futuro.
Uma equipe internacional de cientistas da Nasa, do Laboratório de Propulsão de Jatos e do Laboratório de Física Aplicada Johns Hopkins, vai supervisionar a missão.
Em um momento em que há lançamentos espaciais praticamente toda semana, essa missão promete algo diferente, diz Fox-Powell.
“Não há lucro. O motivo disso é exploração e curiosidade, e expandir os limites do conhecimento do nosso lugar no universo”, afirma.