O recente episódio em Torre Pacheco, na região de Múrcia, Espanha, acendeu um sinal preocupante sobre o avanço do extremismo de cunho xenofóbico na Europa. A atuação do grupo “Deporte-os Já” — que promove caçadas a imigrantes sob o pretexto de segurança pública — mostra como o medo e o preconceito podem ser manipulados politicamente, transformando comunidades multiculturais em campos de conflito social.

Torre Pacheco: quando o medo supera o convívio
A cidade, agrícola e de perfil pacato, abriga uma população majoritariamente composta por imigrantes — cerca de 30% dos seus 40 mil habitantes são estrangeiros, em especial marroquinos. Um episódio de violência envolvendo jovens de origem norte-africana foi o gatilho para que moradores, incitados por discursos de ódio, passassem a organizar patrulhas contra imigrantes, instaurando três noites de terror. O resultado: prisões, repressão e uma cidade mergulhada em tensão social.
A ascensão dos movimentos anti-imigrantes
O “Deporte-os Já”, com presença online e em vários países europeus, não age sozinho. Sua narrativa encontra ressonância em políticos de extrema-direita, como representantes do partido Vox, que reforçam estigmas e incitam ações contra grupos vulneráveis. Essa sinergia entre discurso político e ação social extremista cria um ecossistema perigoso onde o preconceito se legitima e cresce.
“Vocês vêm à Espanha para trabalhar. Não vêm aqui para cometer crimes… Vamos deportá-los todos.”
— trecho de fala atribuída ao presidente regional do Vox, José Ángel Antelo
A urgência de respostas
Mais do que combater episódios pontuais de violência, é preciso abordar a raiz do problema: a falta de políticas inclusivas, a negligência no combate ao discurso de ódio e a fragilidade das estruturas sociais diante da polarização. Autoridades locais clamam por ajuda do governo central, enquanto associações como a Jucil alertam para o risco de uma tragédia maior se nada for feito.
Torre Pacheco não é um caso isolado — é um espelho do que pode ocorrer em diversas partes do mundo quando o preconceito é institucionalizado e o medo substitui o diálogo. O combate à xenofobia não se faz apenas com policiamento, mas com educação, inclusão, e políticas públicas que reconheçam e valorizem a diversidade. A história recente nos mostra que quando ignoramos esses sinais, o custo é pago em liberdade, segurança e humanidade.
Fonte: G1