A imprensa argentina criticou duramente a conduta da polícia do Rio de Janeiro na partida em que a Argentina venceu o Brasil na noite desta terça-feira (21/11) por 1 a 0 pelas eliminatórias sul-americanas para a Copa do Mundo no Maracanã — e destacou a atitude do capitão Lionel Messi, de retirar a seleção de campo até que a briga fosse resolvida.
A confusão acabou atrasando o início do jogo em 27 minutos — foi a primeira vez na história que o Brasil perdeu dentro de casa um jogo de eliminatórias sul-americanas para a Copa do Mundo.
A briga entre torcidas das duas seleções e se alastrou com ação violenta de policiais contra os argentinos.
Os jogadores da Alviceleste defenderam seus torcedores, deixaram o campo rumo ao vestiário e depois voltaram, guiados por Messi.
Oito pessoas foram presas e duas pessoas atendidas nos postos médicos do Maracanã.
Em um duro editorial, intitulado “basta de ataques no Brasil”, o esportivo argentino Olé afirmou que “a descontrolada repressão policial brasileira exige séria reconsiderações. Os torcedores sofreram novamente”. O artigo foi assinado pelo jornalista e vice-diretor de redação do jornal, Diego Macias.
“Além da vitória épica no futebol, basta de ataques no Brasil. Há limites que terão de vir um dia. Se as autoridades não conseguirem resolver a organização de uma partida, não é possível mais jogar lá”, escreveu.
“Em menos de um mês, a polícia brasileira mostrou como uma situação sai do controle, como se reprime indiscriminadamente, como os torcedores visitantes são deixados desprotegidos em um estádio que deveria estar pronto para festejar e flerta com a tragédia”, acrescentou.
Macias lembrou a confusão na final da Libertadores, na praia de Copacabana, entre torcedores do Fluminense e Boca Juniors.
Na época, a imprensa argentina também adotou tom crítico em relação à atuação da polícia brasileira.
Para o jornal argentino Clarín, o de maior circulação do país, o que aconteceu no Maracanã foi um “escândalo”.
Na reportagem, assinada pelo editor de esportes Diego Provenzano, enviado ao Rio de Janeiro, ele destacou que “a polícia local imediatamente se envolveu e iniciou uma batalha campal contra a repressão apenas aos simpatizantes argentinos”.
“Foram longos minutos de absoluta loucura (…) tudo desmoronou definitivamente quando apareceu a polícia brasileira. Eles entraram diretamente para reprimir os torcedores argentinos, como se fossem os únicos causadores da briga”, disse.
“Demorou muito até que tudo finalmente começasse a se acalmar para a Seleção Nacional voltar a campo, com Messi no comando. Eram 22h, meia hora depois do início previsto do jogo. O clássico sul-americano começou da pior forma, como quase sempre acontece no Brasil”, acrescentou.
O Clarín também destacou que o goleiro Dibu Martínez chegou a pular para arquibancada para defender um torcedor argentino de um policial.
“A Argentina enfrentou a máfia e a agressividade que já é comum em um país que fica horrorizado se uma foto de um macaco na tela do celular (algo que claramente não deveria ser feito) lhe é mostrada, mas que tem uma polícia que se comporta como animais selvagens”, escreveu o jornalista esportivo e ex-diretor do Olé Leonardo Farinella em reportagem no site da emissora.
Farinella aludia ao caso envolvendo um torcedor argentino que projetou em seu celular um letreiro com a palavra “macaco” durante o jogo entre o Boca Junior e o Palmeiras em setembro deste ano, no primeiro jogo das semifinais da Libertadores.
“Algum dia a autoridade do futebol terá que resolver o problema com as próprias mãos e punir os brasileiros como eles merecem pela violência real que exercem sobre pessoas de outros países”, acrescentou o jornalista.
Apesar disso, logo ao fim da partida, a briga no Maracanã acabou perdendo importância diante da declaração bombástica do técnico Lionel Scaloni sugerindo que pudesse deixar o comando da seleção da Argentina.